A
amizade e a confiança são terrenos que precisamos de cultivar de forma
consciente, dado que as relações de poder podem surgir sem que nos
apercebermos. Muitas vezes são fruto da nossa própria insegurança e
alimentam-se do facto de nos sentirmos inferiores aos outros.
As
relações de poder também podem dar-se quando explicamos o que não devemos à
pessoa imprópria. Quando temos consciência de que não deveríamos tê-lo feito,
começa o receio de que essa pessoa possa utilizar o que sabe contra nós.
O
problema aqui radica em estarmos a outorgar um poder a uma pessoa que talvez
nem sequer saiba que o tem. Porquê? Porque estamos mais atentos aos outros do
que a nós próprios.
Procurar
a aprovação dos que nos rodeiam gera em nós insegurança e faz com que estabeleçamos
vínculos errados com as pessoas.
A
única aprovação de que precisamos está no interior de cada um. Se não tivermos
confiança, se não estivermos seguros de nós, como é que podemos esperar que os
outros nos aprovem?
Quando
nos sentimos inferiores ao outro, esse outro pode exercer o seu poder sobre
nós.
E
porque é que consideramos que outra pessoa é melhor do que nós? Porque é que
lhe damos esse poder? Porque é que, às vezes, não damos valor a nós próprios? A
resposta é simples: porque não fomos capazes de olhar para nós mesmos e
aceitarmo-nos.
O
caminho da aceitação é árduo, porque, às vezes, há em nós aspectos de que não
gostamos. Em muitos casos, esses aspectos podem chegar a ser limitadores, como,
por exemplo, a timidez extrema. Se nos impede de falar com alguém ou dialogar
numa reunião ou numa entrevista de trabalho, ser tímido pode chegar a ser
problemático.
Mas
somos mais do que isso. A nossa personalidade é formada por muitas outras
características. Ter aspectos que não encaixam no ideal, não quer dizer que
sejamos inferiores, dado que toda a gente tem pontos fracos e fortes. É preciso
aprender a amarmo-nos, a reconhecermo-nos e aceitarmo-nos. Só assim deixaremos
de recear os outros e as suas opiniões deixarão de nos afetar.
Para
que nos respeitem é indispensável que primeiro nos respeitemos a nós mesmos. E,
para tal, devemos ouvir-nos, conhecer os nossos sentimentos e emoções.
Ao
procurar a aprovação dos outros, damos-lhes o poder para nos manipularem e,
dessa maneira, tornamo-nos vulneráveis.
Em
muitos casos de maus tratos psicológicos, a vítima, frequentemente, aceita o
facto de estar a ser maltratada. Porquê? Porque a levaram a acreditar que é
inferior e acredita que não merece nada melhor. O poder que exercem sobre essa
pessoa baseia-se no medo e no papel de vítima que assume.
Para
sair duma situação assim, o principal é abandonar o complexo de inferioridade
que lhes concede o controlo sobre nós.
Se
quisermos superar isso, temos de deixar de nos compararmos, estarmos dispostos
a conhecer-nos, saber os nossos pontos fortes e fracos, trabalhar para sermos
nós a polir o que não gostamos.
Como
recordava Hernmann Hesse, cada ser humano é responsável pelo seu jardim e pinta
na sua mente a aguarela do que deseja ser.
Quando
deixamos de depender dos outros, de nos compararmos e de nos medirmos com eles,
descobrimos que somos donos da nossa vida. Cada um é o seu único juiz e aquele
que pode determinar se está bem aqui ou deve ir mais além e superar os limites
que tinha traçado para si.
A
receita que se desprende do aforismo de Hesse é muito simples: deixa de temer
as críticas e ver-te-ás livre do poder dos outros.
In“A Cura Espiritual de Siddartha”,
Allan Percy - capítulo 3
(Baseado no livro “Siddartha” de Hermann
Hesse)
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