quinta-feira, 4 de abril de 2013

Quando se teme alguém é porque concedemos a esse alguém poder sobre nós



A amizade e a confiança são terrenos que precisamos de cultivar de forma consciente, dado que as relações de poder podem surgir sem que nos apercebermos. Muitas vezes são fruto da nossa própria insegurança e alimentam-se do facto de nos sentirmos inferiores aos outros.

As relações de poder também podem dar-se quando explicamos o que não devemos à pessoa imprópria. Quando temos consciência de que não deveríamos tê-lo feito, começa o receio de que essa pessoa possa utilizar o que sabe contra nós.

O problema aqui radica em estarmos a outorgar um poder a uma pessoa que talvez nem sequer saiba que o tem. Porquê? Porque estamos mais atentos aos outros do que a nós próprios.

Procurar a aprovação dos que nos rodeiam gera em nós insegurança e faz com que estabeleçamos vínculos errados com as pessoas.

A única aprovação de que precisamos está no interior de cada um. Se não tivermos confiança, se não estivermos seguros de nós, como é que podemos esperar que os outros nos aprovem?

Quando nos sentimos inferiores ao outro, esse outro pode exercer o seu poder sobre nós.

E porque é que consideramos que outra pessoa é melhor do que nós? Porque é que lhe damos esse poder? Porque é que, às vezes, não damos valor a nós próprios? A resposta é simples: porque não fomos capazes de olhar para nós mesmos e aceitarmo-nos.

O caminho da aceitação é árduo, porque, às vezes, há em nós aspectos de que não gostamos. Em muitos casos, esses aspectos podem chegar a ser limitadores, como, por exemplo, a timidez extrema. Se nos impede de falar com alguém ou dialogar numa reunião ou numa entrevista de trabalho, ser tímido pode chegar a ser problemático.

Mas somos mais do que isso. A nossa personalidade é formada por muitas outras características. Ter aspectos que não encaixam no ideal, não quer dizer que sejamos inferiores, dado que toda a gente tem pontos fracos e fortes. É preciso aprender a amarmo-nos, a reconhecermo-nos e aceitarmo-nos. Só assim deixaremos de recear os outros e as suas opiniões deixarão de nos afetar.

Para que nos respeitem é indispensável que primeiro nos respeitemos a nós mesmos. E, para tal, devemos ouvir-nos, conhecer os nossos sentimentos e emoções.

Ao procurar a aprovação dos outros, damos-lhes o poder para nos manipularem e, dessa maneira, tornamo-nos vulneráveis.

Em muitos casos de maus tratos psicológicos, a vítima, frequentemente, aceita o facto de estar a ser maltratada. Porquê? Porque a levaram a acreditar que é inferior e acredita que não merece nada melhor. O poder que exercem sobre essa pessoa baseia-se no medo e no papel de vítima que assume.

Para sair duma situação assim, o principal é abandonar o complexo de inferioridade que lhes concede o controlo sobre nós.

Se quisermos superar isso, temos de deixar de nos compararmos, estarmos dispostos a conhecer-nos, saber os nossos pontos fortes e fracos, trabalhar para sermos nós a polir o que não gostamos.

Como recordava Hernmann Hesse, cada ser humano é responsável pelo seu jardim e pinta na sua mente a aguarela do que deseja ser.

Quando deixamos de depender dos outros, de nos compararmos e de nos medirmos com eles, descobrimos que somos donos da nossa vida. Cada um é o seu único juiz e aquele que pode determinar se está bem aqui ou deve ir mais além e superar os limites que tinha traçado para si.

A receita que se desprende do aforismo de Hesse é muito simples: deixa de temer as críticas e ver-te-ás livre do poder dos outros.

In“A Cura Espiritual de Siddartha”, Allan Percy - capítulo 3

(Baseado no livro “Siddartha” de Hermann Hesse)

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